Itã de Obaluaê e Oyá

06/11/2023

O texto a seguir se trata de uma lenda de origem Iorubá, que retrata um pouco das crenças presentes nas religiões de matriz africana, além de, como veremos, como se deu uma linda amizade entre duas divindades: Obaluaê, orixá da cura, das doenças e das passagens, e Iansã, orixá dos ventos, das tempestades e dos raios. É interessante mencionar que Obaluaê também é conhecido como Obaluaiê, Omulú ou Xapanã, e Iansã também é conhecida como Oyá. Espero que gostem dessa história, a qual costuma ser conhecida como Itã ou Itan (lenda), e como tal, tem sua origem na tradição oral.

Obaluaê era filho de Nanã, a mais velha dos orixás. O menino tinha seu corpo coberto por feridas, era manco e considerado muito feio, o que motivou a rejeição por parte de sua mãe. Assim, certo dia, Yemanjá decidiu adotar e criar a criança como se fosse seu próprio filho.

Os anos se passaram, e logo, Obaluaê cresceu. Certo dia, Xangô, o "Rei dos Trovões", decidiu realizar uma grande festa em seu palácio, e convidou todos os orixás, exceto Obaluaê, pois devido à sua vaidade, Xangô sentia-se incomodado com a aparência repugnante de Obaluaê. Desse modo, só restava ao rapaz assistir à festa pelas frestas do terreiro do grande palácio de Xangô. 

O irmão de Xangô, Ogum, percebendo a angústia de Obaluaê, decide ajudá-lo, providenciando uma grande vestimenta feita de palha-da-costa. A veste cobria o rapaz da cabeça aos pés, escondendo assim as feridas e chagas.

Obaluaê então, adentrou a festa, mesmo sentindo-se acanhado. Ainda assim, ninguém se atrevia a aproximar-se dele. 

No entanto, havia uma bela moça, de nome Iansã, que observava atentamente o rapaz, e compreendendo sua triste condição, compadecia-se dele. A festa dos orixás continuava acontecendo e, Iansã decidiu aguardar até o momento em que Obaluaê estivesse no centro do Xirê dos Orixás¹, onde os demais convidados dançavam alegremente. Nessa hora, a bela Iansã entrou na roda e começou a girar ao lado de Obaluaê, balançando seu lindo vestido armado.

Com a dança de Iansã, uma forte ventania se sucedeu, levantando toda a palha que cobria o rapaz, expondo todas as feridas cobertas até então. Nesse momento, as feridas de Obaluaê pularam para fora de seu corpo, como num passe de mágica, transformadas em uma chuva de pipocas, que cobriu de branco todo o chão do palácio de Xangô.

Ao fitarem Obaluaê, todos se espantaram, pois se depararam com um homem jovem e de incomum beleza, que até momentos atrás, estava ocultado debaixo de suas feridas.

Deste dia em diante, nasceu uma linda amizade entre Obaluaê e Iansã, tão forte, que Obaluaê decidiu dividir seu reino com a bela moça. Assim, Iansã recebeu o título de Iansã Igbalé, a orixá que detém poder sobre o reino dos mortos, capaz de dominar e encaminhar os espíritos perdidos e desorientados.

Adaptação livre

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GLOSSÁRIO

[1] XIRÊ: palavra de origem Iorubá que significa "roda". Trata-se de uma dança circular realizada em terreiros de Candomblé, para evocação das divindades, conforme cada nação.

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É incrível como as histórias e tradições orais caracterizam a identidade de cada nação, de cada povo, e carregam lições e ensinamentos bastante interessantes, não é? Espero que tenham gostado, e nos vamos no próximo post. Até logo!

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